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segunda-feira, 21 de outubro de 2019

O SILÊNCIO DO MEU CORPO

Eu tenho um grito preso na garganta.
Palavras que se amontoam na minha mente, mas que não sou capaz de verbalizar.
Eu tenho um abraço guardado no colo, um abraço cheio de amor, de saudades, carinhos que já não sou capaz de fazer.
Eu tenho uma prece murmurada em pensamento, todos os dias. Na fé que acalento na alma, mas que não chega aos meus lábios.
Eu tenho um "eu te amo", um "muito obrigada", "me perdoa" e tantas outras frases que gostaria de dizer e não posso.
Eu viajo constantemente por lugares que não vou conhecer e outros que conheci e não posso mais visitar.
Eu tenho tantos arrependimentos. O carinho que deixei de fazer porque precisava limpar a casa. Eu e essa mania de limpeza.
O perdão que não pedi e que também não fui capaz de conceder, por puro orgulho.
Ah, como eu queria me ver livre dessa prisão chamada corpo.
Como eu queria rodopiar lá fora e sentir o vento, o sol, a chuva.
Como eu queria poder pegar meu neto no colo.
As lágrimas escorrem, mas não de dor física e sim por tudo que não sou mais capaz de fazer, de falar, por tudo que deixei em segundo plano e que hoje, hoje eu sei, eram as coisas mais importantes.
Um dia, espero voar livre das amarras.
Nesse dia, eu abençoarei com meu amor todos que cuidaram de mim e serei eternamente grata.
Nesse dia, terei rompido definitivamente meu casulo e poderei partir com a leveza de  uma borboleta, não sem antes  sobrevoar em volta de cada um dos meus amores e quem sabe, pousar por alguns instantes, no teu ombro.


"Para uma pessoa muito querida, portadora de ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica)"
Sônia A.

                            imagem: Arquivo pessoal