Neste encontro usamos uma fábula de Rubem Alves,que nos proporcionou várias reflexões em torno de dois sentimentos e suas nuances.
Ciúme e inveja.
O que os desperta em nós?
Como saber reconhecer,aceitar e transformar?
Como eles afetam quem sente e a quem lhes é direcionado?
Foi um encontro muito rico,finalizado com entrega de uma rosa para cada uma e a leitura de um texto por uma participante,que de forma amorosa, compartilhou com todas nós.
Abaixo deixamos a fábula para reflexão.
A PIPA E A FLOR
Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.
Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois!
A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa.
Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.
A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim... Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo. Ficava emburrada. Exigia explicações de tudo.
E a pipa começou a ter medo de ficar feliz, pois sabia que isto faria a flor sofrer.
A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
A pipa via, ali do baixinho de sobre o quintal as outras pipas lá em cima. E sua boca foi ficando triste. E percebeu que já não gostava mais tanto da flor como no início...
Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1 - A pipa percebeu que havia mais alegria na liberdade de antigamente que nos abraços da flor. Porque aqueles eram abraços que amarravam. E assim, num dia de grande ventania, e se valendo de uma distração da flor, arrebentou a linha, e foi em busca de uma outra mão que ficasse feliz vendo-a voar nas alturas...
2 - A pipa ficou tão triste que resolveu nunca mais voar...
- “Não vou te incomodar com os meus risos, Flor, mas também não vou te dar a alegria do meu sorriso”.
E assim ficou amarrada junto à flor, mas mais longe dela do que nunca, porque o seu coração estava em sonhos de vôos e nos risos de outros tempos.
A pipa nunca mais sorriu.
3 - A flor, na verdade, era uma borboleta, que uma bruxa má enfeitiçou e condenou a viver fincada no chão! O feitiço se quebraria no dia em que ela fosse capaz de dizer não à sua inveja e ao seu ciúme, e se sentisse feliz com a felicidade dos outros. E aconteceu que um dia, por encanto, vendo a pipa voar, ela se esqueceu de si mesma por um instante e ficou feliz ao ver a felicidade da pipa. Esse encantamento aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas!
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