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segunda-feira, 3 de junho de 2019

RUÍNAS

Um monge descabelado me disse no caminho: “Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam. Porque o abandono pode não ser apenas de um homem debaixo da ponte, mas pode ser também de um gato no beco ou de uma criança presa num cubículo. O abandono pode ser também de uma expressão que tenha entrado para o arcaico ou mesmo de uma palavra. Uma palavra que esteja sem ninguém dentro (O olho do monge estava perto de ser um canto). Continuou: digamos a palavra AMOR. A palavra amor está quase vazia. Não tem gente dentro dela. Queria construir uma ruína para a palavra amor. Talvez ela renascesse das ruínas, como o lírio pode nascer de um monturo”. E o monge se calou descabelado.
(Manoel de Barros)
                                                 (Imagem:Google)

13 comentários:

  1. Que beleza! Adoro Manoel de Barros! beijos, chica

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  2. Quantas ruínas trazemos em nosso interior, colocar o amor dentro delas talvez seja a solução para curar cada uma, ou pelo menos algumas.
    Gosto muito de Manoel de Barros.
    Ana Lúcia

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  3. Às vezes há mais coerência na loucura do que na assim chamada sanidade...
    Desconstruir é necessário, para dar lugar ao novo. Muitas crenças, hábitos e dogmas que abrigamos são energias congeladas em nós, que nos prendem e impedem nossa caminhada na evolução. Precisamos nos descabelar deixando-nos tocar pelos ventos da vida!
    Um grande abraço.

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  4. Olá Sônia,
    que lindo!
    Realmente existem vários tipos de ruínas.
    As vezes olhamos por fora, uma construção intacta,ou pessoas com uma beleza exterior exuberante, mas por dentro, tudo está em ruínas.
    Precisando de ser reconstruido, preenchido com o amor.

    Abraços.

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  5. Oi Sonia
    Em alguns recantos de nossa memória guardamos algumas ruínas que precisam sair do casulo e metamorfosear. Texto belíssimo
    Beijinhos querida

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  6. Acredito que trazemos algumas ruínas em nosso intimo. A maneira como as olhamos quando voltamos nosso olhar ao passado é que está a diferença. Colocar amor em nosso olhar, bjinhos

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  7. Um texto formidável, que nos faz pensar... em como certas estruturas... coisas, pessoas, situações, são o perfeito exemplo da desconstrução... e em como este mundo, que nasceu perfeito... tem vindo a ser desconstruído... perante tanta construção...
    De facto... renascer é preciso... é um processo constante... como a natureza tão bem nos mostra...
    Como sempre, uma notável publicação por aqui, Sônia!
    Beijinhos! Feliz domingo e uma óptima semana!
    Ana

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  8. Muito delicado, Sonia, adoro Manuel de Barros... Abraço!

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  9. Que maravilha! Gosto de Manoel de Barros.
    Bjs

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  10. Que show!!!
    Perfeito... e tão atual!!!

    Obrigada pelo carinho lá na caverna...

    Não esqueço esse cantinho, gosto muito de tudo isso e devagar e sempre, continuarei voando aqui e ali.

    Abraços esmagadores e dias felizes.

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  11. Outra mensagem encantadora, profunda e reflexiva, amei! Sim, parabéns pelo blog, é lindíssimo!
    Beijos carinhosos!

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