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sexta-feira, 28 de abril de 2017

SEGUNDO ENCONTRO

No encontro desse mês, algumas não puderam participar, ainda assim, a conversa foi muito agradável e proveitosa.
O conto que usamos nos deu oportunidade de falar sobre as expectativas que criamos em relação ao outro.
Nossas buscas, aquilo que desejamos e depois percebemos que não eram tão importantes.
O convívio com pessoas que nos sugam as energias, exigem mais do que somos capaz de dar e nos causam um tremendo cansaço interno. O que fazer?
Somos tecelãs do nosso destino, cabe a nós a escolha. Mas nem sempre é fácil cortar o fio, desfazer os nós e começar uma nova história...

                          (imagem retirada do google)

                          A MOÇA TECELà( Marina Colasanti )

Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ela  poderia lhe dar.
- Uma casa melhor é necessária, -- disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
- É para que ninguém saiba do tapete, -- disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: -- Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.

27 comentários:

  1. Que conto encantador amiga. Lindo.
    Um abraço e bom fim de semana

    À margem. O Sexta, está de festa. Se puder passe por lá. Os amigos são a origem do seu existir.

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  2. Maravilhoso conto da Marina Colassanti e o encontro deve ter sido legal mesmo! bjs, lindo fds! chica

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  3. Olá Sônia!
    Aqui você bem resumiu a vida, seus caminhos e atalhos: 'Somos tecelãs do nosso destino, cabe a nós a escolha. Mas nem sempre é fácil cortar o fio, desfazer os nós e começar uma nova história..."
    Assumindo a responsabilidade pela nossa vida, pelos caminhos escolhidos e suas consequências e, ter o leme nas nossas mãos. Quem mais poderá saber o que é adequado para o nosso viver?
    Uma leitura deliciosa! Imagino o quanto são excelentes estes encontros, Sônia.
    Agradecida pela sua generosidade em partilhar conosco esta riqueza.
    Um bom domingo querida e beijocas.

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  4. As vezes temos que desfazer o "tapete" que nao nos faz feliz.
    CArol

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  5. Olá Sônia,
    Fiquei absolutamente encantada com este texto da Marina Colasanti, não só pelas mensagens que passa, mas também pela beleza da escrita.
    Nem sempre é fácil fazer escolhas e nem sempre acertamos; porém, sempre poderemos criar a oportunidade de revê-las e de dar à vida um novo sentido, mais coerente com os nossos anseios.
    Linda partilha!
    Pelo visto, o encontro foi enriquecedor.
    Ótimo domingo e feriado!
    Beijo.

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  6. Um conto que tece a teia e a trama da vida... Maravilhoso e quase mágico.
    Uma boa semana.
    Beijos.

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  7. Olá amiga! Retornando as minhas atividades nos blogs, fiquei afastada por um tempo, problemas de saúde que estão passando graças a Deus. Aproveito para desculpar-me pela ausência e assim que puder retornarei aqui com muito prazer pois amo suas postagens e a pessoa que você transmite ser. Como são muitas visitas, hoje estou com esse comentário para todos, mas saiba que se estou aqui o meu coração também está repleto de alegria. Abraços, que jesus nos abençoe sempre.
    Profª Lourdes Duarte
    http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
    http://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/

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  8. Querida Sônia,

    Neste seu espaço encontramos a preciosidade da sabedoria
    tecida na arte, a melhor arte.
    Maravilhosa a escolha do magistral
    conto da Marina Colasanti. O na encantamento na magia do acordar
    para a vida que sempre renasce...

    Tudo em harmonia: conto, a mensagem
    do encontro e a imagem.
    "Somos tecelãs do nosso destino,
    cabe a nós a escolha"
    Perfeito, amiga!...
    Uma semana na tecelagem dos dias
    felizes!
    Beijo e abraço de alma para alma.

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  9. Que lindo conto. Quanto ao começa da postagem, é muito difícil se desprender de laços que nos toxicam, e queria saber também qual o nome desta música que vc tem no blog? É linda, fiquei um tempão ouvindo ela.
    Bjs

    http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/

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    Respostas
    1. Oi Simone,
      A música é:
      Meditation Healing Sleep Zen Peace.
      Bjs

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  10. Oiee amore .... tenha um lindo mês de maio .... que Deus realize todos os seus projetos .... bjinhos com carinho ...

    Deus te abençõe

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  11. Sublime aplaudindo de pé e convidando para que conheçam a www.hellolwebradio.com ... você.Vem!
    Cadinho RoCo

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  12. Olá querida, vim retribuir sua carinhosa visita ao meu cantinho e convidá-la a conhecer meus ouros blogs, se gostar segui, ficarei grata. Amei seu estilo de postagem, que nos deixa de fato curiosa a voltar. Esse conto maravilhoso nos da a dimensão de que por mais atropelos na vida, a cada amanhecer a vida renasce. Tenha um dia abençoado junto aos seus. Abraços
    Lourdes Duarte
    http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
    http://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/
    http://filosofia-e-romantismo-na-vida.webnode.com/minhas-poesias/

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  13. Boa noite
    Bonito conto da Marina Colasanti.
    Obrigada pela visita lá no blog.
    Beijos

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  14. Lindo conto amiga ! O que fazemos quando não entendemos que nós mesmos tecemos nossos fios e cabe a nós mesmos as mudanças necessárias. Quando não conseguimos ver com clareza porque nossos olhos estão por demais cansados de tudo vem a vida e assopra com força... lá se vão pelos ares os valores que nos acorrentavam. Sem sentir medo devemos tecer outro destino e continuar ... sempre !!!
    SONIA BUZANELLO

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  15. Assim pudéssemos nós, em momentos da vida refazer decisões menos acertadas.
    Uma grande lição de vida.

    Gostei muito,

    um abraço.

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  16. Que maximo esse texto, obrigado pela visita, bom final de semana.
    Blog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br
    Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM

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  17. Bom dia, excelente criatividade na criação do belo conto, todos os dias existe a necessidade de tear a mesma.
    Semana feliz,
    AG

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  18. Gostei imenso deste belo conto.
    Bjs

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  19. Sônia , a escolha de Marina Colassanti no conto que publicou e nos ofertou é mostra de sua sensibilidade apurada . Agradeço a partilha . Beijos

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  20. Olá querida Sonia.
    Que belo conto, nós prende do começo ao fim da leitura. A musica como sempre um bolsamo aos ouvidos. Um lindo domingo e feliz semana. Grande abraço.

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  21. Nossa!
    É o que sempre digo: "A vida é simples, nós é que complicamos".
    A simplicidade da sua vida me agradava muito mais do que todas as riquezas que ela teve. Sou como ela. Acho que Deus nos manda tudo que precisamos e só temos que levantar os olhos e agradecer. Muitas vezes, esquecemos de dar graças pelo alimento, teto, trabalho, família e a oportunidade de sentar na varanda e tecer admirando o céu.
    Obrigada pelo belo post.

    Abraços esmagadores e feliz semana.

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  22. Sonia, boa noite querida!
    Cheguei pelo carinho, pelas palavras e pela linda música.
    Deixo um beijinho e o desejo de um bom domingo.

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  23. Que conto lindo!... Desconhecia por completo!...
    As vezes os pontos... transformam-se em nós... apertados...
    Sim. Cortar o fio, às vezes é mesmo necessário, até por uma questão de sobrevivência...
    E às vezes... mais vale estar-se só, do que mal acompanhado...
    Beijinho, Sônia! Feliz semana!
    Ana

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