No encontro desse mês, algumas não puderam participar, ainda assim, a conversa foi muito agradável e proveitosa.
O conto que usamos nos deu oportunidade de falar sobre as expectativas que criamos em relação ao outro.
Nossas buscas, aquilo que desejamos e depois percebemos que não eram tão importantes.
O convívio com pessoas que nos sugam as energias, exigem mais do que somos capaz de dar e nos causam um tremendo cansaço interno. O que fazer?
Somos tecelãs do nosso destino, cabe a nós a escolha. Mas nem sempre é fácil cortar o fio, desfazer os nós e começar uma nova história...
(imagem retirada do google)
A MOÇA TECELÃ ( Marina Colasanti )
Acordava ainda no escuro, como se ouvisse o sol chegando atrás das beiradas da noite. E logo sentava-se ao tear.
Linha clara, para começar o dia. Delicado traço cor de luz, que ela ia passando entre os fios estendidos, enquanto lá fora a claridade da manhã desenhava o horizonte.
Depois lãs mais vivas, quentes lãs iam tecendo hora a hora, em longo tapete que nunca acabava.
Se era forte demais o sol, e no jardim pendiam as pétalas, a moça colocava na lançadeira grossos fios cinzentos de algodão mais felpudo. Em breve, na penumbra trazida pelas nuvens, escolhia um fio de prata, que em pontos longos rebordava sobre o tecido. Leve, a chuva vinha cumprimentá-la à janela.
Mas se durante muitos dias o vento e o frio brigavam com as folhas e espantavam os pássaros, bastava a moça tecer com seus belos fios dourados, para que o sol voltasse a acalmar a natureza.
Assim, jogando a lançadeira de um lado para o outro e batendo os grandes pentes do tear para frente e para trás, a moça passava os seus dias.
Nada lhe faltava. Na hora da fome tecia um lindo peixe, com cuidado de escamas. E eis que o peixe estava na mesa, pronto para ser comido. Se sede vinha, suave era a lã cor de leite que entremeava o tapete. E à noite, depois de lançar seu fio de escuridão, dormia tranquila.
Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
Mas tecendo e tecendo, ela própria trouxe o tempo em que se sentiu sozinha, e pela primeira vez pensou como seria bom ter um marido ao seu lado.
Não esperou o dia seguinte. Com capricho de quem tenta uma coisa nunca conhecida, começou a entremear no tapete as lãs e as cores que lhe dariam companhia. E aos poucos seu desejo foi aparecendo, chapéu emplumado, rosto barbado, corpo aprumado, sapato engraxado. Estava justamente acabando de entremear o último fio da ponta dos sapatos, quando bateram à porta.
Nem precisou abrir. O moço meteu a mão na maçaneta, tirou o chapéu de pluma, e foi entrando na sua vida.
Aquela noite, deitada contra o ombro dele, a moça pensou nos lindos filhos que teceria para aumentar ainda mais a sua felicidade.
E feliz foi, durante algum tempo. Mas se o homem tinha pensado em filhos, logo os esqueceu. Porque, descoberto o poder do tear, em nada mais pensou a não ser nas coisas todas que ela poderia lhe dar.
- Uma casa melhor é necessária, -- disse para a mulher. E parecia justo, agora que eram dois. Exigiu que escolhesse as mais belas lãs cor de tijolo, fios verdes para os batentes, e pressa para a casa acontecer.
Mas pronta a casa, já não lhe pareceu suficiente. – Para que ter casa, se podemos ter palácio? – perguntou. Sem querer resposta, imediatamente ordenou que fosse de pedra com arremates em prata.
Dias e dias, semanas e meses trabalhou a moça tecendo tetos e portas, e pátios e escadas, e salas e poços. A neve caía lá fora, e ela não tinha tempo para chamar o sol. A noite chegava, e ela não tinha tempo para arrematar o dia. Tecia e entristecia, enquanto sem parar batiam os pentes acompanhando o ritmo da lançadeira.
Afinal o palácio ficou pronto. E entre tantos cômodos, o marido escolheu para ela e seu tear o mais alto quarto da mais alta torre.
- É para que ninguém saiba do tapete, -- disse. E antes de trancar a porta à chave, advertiu: -- Faltam as estrebarias. E não se esqueça dos cavalos!
Sem descanso tecia a mulher os caprichos do marido, enchendo o palácio de luxos, os cofres de moedas, as salas de criados. Tecer era tudo o que fazia. Tecer era tudo o que queria fazer.
E tecendo, ela própria trouxe o tempo em que sua tristeza lhe pareceu maior que o palácio com todos os seus tesouros. E pela primeira vez pensou como seria bom estar sozinha de novo.
Só esperou anoitecer. Levantou-se enquanto o marido dormia sonhando com novas exigências. E descalça, para não fazer barulho, subiu a longa escada da torre, sentou-se ao tear.
Desta vez não precisou escolher linha nenhuma. Segurou a lançadeira ao contrário, e, jogando-a veloz de um lado para o outro, começou a desfazer o seu tecido. Desteceu os cavalos, as carruagens, as estrebarias, os jardins. Depois desteceu os criados e o palácio e todas as maravilhas que continha. E novamente se viu na sua casa pequena e sorriu para o jardim além da janela.
A noite acabava quando o marido, estranhando a cama dura, acordou e, espantado, olhou em volta. Não teve tempo de se levantar. Ela já desfazia o desenho escuro dos sapatos, e ele viu seus pés desaparecendo, sumindo as pernas. Rápido, o nada subiu-lhe pelo corpo, tomou o peito aprumado, o emplumado chapéu.
Então, como se ouvisse a chegada do sol, a moça escolheu uma linha clara. E foi passando-a devagar entre os fios, delicado traço de luz, que a manhã repetiu na linha do horizonte.
Que conto encantador amiga. Lindo.
ResponderExcluirUm abraço e bom fim de semana
À margem. O Sexta, está de festa. Se puder passe por lá. Os amigos são a origem do seu existir.
Maravilhoso conto da Marina Colassanti e o encontro deve ter sido legal mesmo! bjs, lindo fds! chica
ResponderExcluirOlá Sônia!
ResponderExcluirAqui você bem resumiu a vida, seus caminhos e atalhos: 'Somos tecelãs do nosso destino, cabe a nós a escolha. Mas nem sempre é fácil cortar o fio, desfazer os nós e começar uma nova história..."
Assumindo a responsabilidade pela nossa vida, pelos caminhos escolhidos e suas consequências e, ter o leme nas nossas mãos. Quem mais poderá saber o que é adequado para o nosso viver?
Uma leitura deliciosa! Imagino o quanto são excelentes estes encontros, Sônia.
Agradecida pela sua generosidade em partilhar conosco esta riqueza.
Um bom domingo querida e beijocas.
As vezes temos que desfazer o "tapete" que nao nos faz feliz.
ResponderExcluirCArol
Olá Sônia,
ResponderExcluirFiquei absolutamente encantada com este texto da Marina Colasanti, não só pelas mensagens que passa, mas também pela beleza da escrita.
Nem sempre é fácil fazer escolhas e nem sempre acertamos; porém, sempre poderemos criar a oportunidade de revê-las e de dar à vida um novo sentido, mais coerente com os nossos anseios.
Linda partilha!
Pelo visto, o encontro foi enriquecedor.
Ótimo domingo e feriado!
Beijo.
Um conto belíssimo e bom encontro!!!bj
ResponderExcluirUm conto que tece a teia e a trama da vida... Maravilhoso e quase mágico.
ResponderExcluirUma boa semana.
Beijos.
Olá amiga! Retornando as minhas atividades nos blogs, fiquei afastada por um tempo, problemas de saúde que estão passando graças a Deus. Aproveito para desculpar-me pela ausência e assim que puder retornarei aqui com muito prazer pois amo suas postagens e a pessoa que você transmite ser. Como são muitas visitas, hoje estou com esse comentário para todos, mas saiba que se estou aqui o meu coração também está repleto de alegria. Abraços, que jesus nos abençoe sempre.
ResponderExcluirProfª Lourdes Duarte
http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
http://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/
Querida Sônia,
ResponderExcluirNeste seu espaço encontramos a preciosidade da sabedoria
tecida na arte, a melhor arte.
Maravilhosa a escolha do magistral
conto da Marina Colasanti. O na encantamento na magia do acordar
para a vida que sempre renasce...
Tudo em harmonia: conto, a mensagem
do encontro e a imagem.
"Somos tecelãs do nosso destino,
cabe a nós a escolha"
Perfeito, amiga!...
Uma semana na tecelagem dos dias
felizes!
Beijo e abraço de alma para alma.
Que lindo conto. Quanto ao começa da postagem, é muito difícil se desprender de laços que nos toxicam, e queria saber também qual o nome desta música que vc tem no blog? É linda, fiquei um tempão ouvindo ela.
ResponderExcluirBjs
http://eueminhasplantinhas.blogspot.com.br/
Oi Simone,
ExcluirA música é:
Meditation Healing Sleep Zen Peace.
Bjs
Oiee amore .... tenha um lindo mês de maio .... que Deus realize todos os seus projetos .... bjinhos com carinho ...
ResponderExcluirDeus te abençõe
Sublime aplaudindo de pé e convidando para que conheçam a www.hellolwebradio.com ... você.Vem!
ResponderExcluirCadinho RoCo
Olá querida, vim retribuir sua carinhosa visita ao meu cantinho e convidá-la a conhecer meus ouros blogs, se gostar segui, ficarei grata. Amei seu estilo de postagem, que nos deixa de fato curiosa a voltar. Esse conto maravilhoso nos da a dimensão de que por mais atropelos na vida, a cada amanhecer a vida renasce. Tenha um dia abençoado junto aos seus. Abraços
ResponderExcluirLourdes Duarte
http://filosofandonavidaproflourdes.blogspot.com.br/
http://professoralourdesduarte.blogspot.com.br/
http://filosofia-e-romantismo-na-vida.webnode.com/minhas-poesias/
Muito lindo!
ResponderExcluirBeijinhos
Boa noite
ResponderExcluirBonito conto da Marina Colasanti.
Obrigada pela visita lá no blog.
Beijos
Lindo conto amiga ! O que fazemos quando não entendemos que nós mesmos tecemos nossos fios e cabe a nós mesmos as mudanças necessárias. Quando não conseguimos ver com clareza porque nossos olhos estão por demais cansados de tudo vem a vida e assopra com força... lá se vão pelos ares os valores que nos acorrentavam. Sem sentir medo devemos tecer outro destino e continuar ... sempre !!!
ResponderExcluirSONIA BUZANELLO
RETOMEI MEU BLOG. ACEITO VISITAS...
ResponderExcluirAssim pudéssemos nós, em momentos da vida refazer decisões menos acertadas.
ResponderExcluirUma grande lição de vida.
Gostei muito,
um abraço.
Que maximo esse texto, obrigado pela visita, bom final de semana.
ResponderExcluirBlog:https://arrasandonobatomvermelho.blogspot.com.br
Canal:https://www.youtube.com/watch?v=DmO8csZDARM
Bom dia, excelente criatividade na criação do belo conto, todos os dias existe a necessidade de tear a mesma.
ResponderExcluirSemana feliz,
AG
Gostei imenso deste belo conto.
ResponderExcluirBjs
Sônia , a escolha de Marina Colassanti no conto que publicou e nos ofertou é mostra de sua sensibilidade apurada . Agradeço a partilha . Beijos
ResponderExcluirOlá querida Sonia.
ResponderExcluirQue belo conto, nós prende do começo ao fim da leitura. A musica como sempre um bolsamo aos ouvidos. Um lindo domingo e feliz semana. Grande abraço.
Nossa!
ResponderExcluirÉ o que sempre digo: "A vida é simples, nós é que complicamos".
A simplicidade da sua vida me agradava muito mais do que todas as riquezas que ela teve. Sou como ela. Acho que Deus nos manda tudo que precisamos e só temos que levantar os olhos e agradecer. Muitas vezes, esquecemos de dar graças pelo alimento, teto, trabalho, família e a oportunidade de sentar na varanda e tecer admirando o céu.
Obrigada pelo belo post.
Abraços esmagadores e feliz semana.
Sonia, boa noite querida!
ResponderExcluirCheguei pelo carinho, pelas palavras e pela linda música.
Deixo um beijinho e o desejo de um bom domingo.
Que conto lindo!... Desconhecia por completo!...
ResponderExcluirAs vezes os pontos... transformam-se em nós... apertados...
Sim. Cortar o fio, às vezes é mesmo necessário, até por uma questão de sobrevivência...
E às vezes... mais vale estar-se só, do que mal acompanhado...
Beijinho, Sônia! Feliz semana!
Ana